DESTAQUE

NOVO PISO: Jornalistas e patrões firmam acordo coletivo de 2017

Da assessoria Após seis rodadas de negociação, mediadas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Mato Grosso, o Sindic...

18 de dez. de 2008

A SAPATADA


SOLIDARIEDADE A MUNTADAR AL-ZAIDI

Nós, jornalistas brasileiros do Movimento LutaFenaj, engajados na luta por transformações sociais em curso no Brasil e América Latina, nos solidarizamos com o colega jornalista Muntadar al-Zaidi. O profissional da imprensa lavrou seu protesto, num gesto de muita coragem e que muitos cidadãos do mundo desejavam fazer, contra o inimigo da paz e da humanidade, o presidente estadunidense George W. Bush, responsável pela ocupação do Iraque e por um número de mortes de civis que oscila, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 104 mil e 223 mil, bem como mais de quatro mil soldados estadunidenses.

Exigimos que o jornalista Muntadar al-Zaidi seja libertado imediatamente e possa retornar à redação da emissora de televisão Al-Baghdadia, baseada no Cairo. Exigimos também que as autoridades iraquianas garantam a integridade física do nosso corajoso colega. É intolerável e escabroso que Muntadar al-Zaidi, conforme denúncia do seu irmão, esteja sendo torturado em prisão iraquiana!

Além de expressar nossa solidariedade, reiteramos que o colega jornalista Muntadar al-Zaidi com seu gesto apenas exerceu o direito de manifestar-se energicamente contra a atrevida visita ao Iraque do principal responsável pelo atroz sofrimento imposto ao povo pelas tropas de ocupação: George W. Bush.

Muntadar al-Zaidi deu o recado de milhões de cidadãos deste Planeta que entendem que o Presidente dos Estados Unidos viajou ao Iraque apenas para fazer marketing. Algo inadmissível, amoral e hipócrita, que, vale sempre repetir, merece o repúdio de todos os cidadãos do mundo.

Mário Augusto Jakobskind (Rio de Janeiro)
Romário Schettino (Distrito Federal)
Leonor Costa (Distrito Federal)
Bia Barbosa (São Paulo)
Pedro Pomar (São Paulo)
Keka Werneck (Mato Grosso)
Marcia Raquel (Mato Grosso)
Maria Luiza Franco Busse (Rio de Janeiro)
Luciana Araújo (São Paulo)
Rafael Duarte D'Oliveira (Rio de Janeiro)
Caroline Santos (Sergipe)
George Washington (Sergipe)
Antônio Carlos Queiroz (Distrito Federal)
Claudia de Abreu (Rio de Janeiro)
Antonio Castigliola (Rio de Janeiro)
Beto Almeida (Distrito Federal)
Beth Rezende (Rio de Janeiro)
Daniel dos Santos Hammes (Rio Grande do Sul)
Caio Teixeira (Santa Catarina)
Fernanda Estima (São Paulo)
Miriam Gontijo de Moraes (Minas Gerais)
Paulo Miranda – (Distrito Federal)
Álvaro Britto (Rio de Janeiro)
Edgard Fonseca (Rio de Janeiro)
José Christian Góes (Sergipe)
Katia Marko (Rio Grande do Sul)
Sergio Caldieri (Rio de Janeiro)
Nilo Sergio Gomes (Rio de Janeiro)
Teresa Cristina Nogueira Azevedo (São Paulo)
Fernando Paulino (Rio de Janeiro)
Lindinor Larangeira (Rio de Janeiro)
Marlucio Luna (Rio de Janeiro)
Claudia Santiago (Rio de Janeiro)
Vinicius Mansur (São Paulo)
Bartira Silva de Lima (Rio de Janeiro)
Vilso Junior Santi ( Rio Grande do Sul)
Elida Miranda (Alagoas)
Elis Regina Nuffer (Rio de Janeiro)
Marcelo Netto Rodrigues (São Paulo)
Mouzar Benedito (São Paulo)
Laerte Braga (Minas Gerais)
Najla Passos (Distrito Federal)
Álvaro Neiva (Rio de Janeiro)
Luciana Crespo (Rio de Janeiro)
Jorge Nunes (Rio de Janeiro)
Carla Lisboa (Distrito Federal)
Adelfran Lacerda (Rio de Janeiro)
Bernadete Travassos (Rio de Janeiro
Hélcio Duarte Filho (Rio de Janeiro)


QUE VENHA O JORNALISMO - Por Elaine Tavares, jornalista em Florianópolis

Jornalismo no Brasil é uma vergonha. Quase tudo o que se vê na TV ou se lê nos jornais e revistas semanais pouco tem a ver com a vida das gentes. As fontes são as oficiais e raros são os que se aventuram pelas estradas vicinais, poeirentas, da vida real. Melhor é ficar no gabinete, nas salas acarpetadas, com ar condicionado, a sorver cafezinho e ouvir, reverente, a voz do poder. Isso dá muito mais lucro. Pode colocar um jornalista nas graças dos que mandam. Isso significa verbas adicionais e fama. Quem não quer?

O ser humano normal sonha com isso. Trabalhar na Globo, aparecer em rede nacional, ser reconhecido no supermercado. E, de quebra, ainda ter uma boa poupança para os tempos difíceis. Para isso, só vale uma regra: não brigar com o poder. Servilismo, servidão. Dar murro em ponta de faca pra quê? Bobagens de quem não tem família para sustentar.

Pois o jornalista iraquiano Muntadar al-Zeidi fez o improvável. Ele não escreveu qualquer matéria, não ficou perdido entre anotações, não usou câmera escondida, não foi para frente de batalha, não mergulhou em documentos, sequer narrou a vida desgraçada dos seus compatriotas, acossados pela ganância estadunidense. Ele apenas arremessou um sapato contra o rei. Numa situação absolutamente normótica, quando os jornalistas se aglomeram para fazer perguntas idiotas a um energúmeno completo como é o presidente estadunidense, sem que absolutamente seja aventada qualquer possibilidade de um questionamento embaraçoso paro o poder, o homem, jornalista, explodiu.

Não era terrorista, nem homem-bomba, nem nada. Só uma pessoa, cansada de servir àquele que nada mais era do que um gangster de terceira classe. Mas que, por tanto tempo nos píncaros da gloria, comandando o exército mais poderoso da terra, havia de ser temido. E assim, não bastando ter destruído toda a cultura do Iraque, matado sua gente, destruído sua auto-estima, massacrado sua honra, ainda se deu ao luxo de ir dizer "goodbay" . Tripudiava , pisoteava, humilhava um pouco mais aquele povo que até hoje, passados cinco anos, ainda morre pelo simples fato de ser o que é.

O jornalista não ouviu os dois lados, não contou histórias, não checou informações. Ainda assim merece ganhar todos os prêmios do mundo. E por quê? Porque num tempo em que o normal é servir ao poder ele disse: Não! Sem armas, mas sem medo, ele usou o que mais prosaico se poderia usar, o sapato. E, num ato de digna raiva o arremessou contra o boneco estadunidense, que tal e qual um estúpido, ria sem entender a grandeza do gesto. O jovem iraquiano que aos gritos de "cachorro", tentou atingir o presidente do país mais armado da terra, ficará eterno ao protagonizar uma hora histórica. No lugar improvável, entre os serviçais, ele se levantou e arremessou o sapato. Um gesto pueril, inglório, tolo, mas que redimiu parte da humanidade.

Não é sem razão que pelo mundo todo seu gesto ingênuo esteja sendo saudado como a maravilha das maravilhas. Porque no planeta dos escravos de Jó teve um que decidiu sair da casinha do jornalismo cortesão e dizer ao mundo a palavra aprisionada: "cachorro!", que, pensando bem, é uma ofensa contra esses lindos animais. Vai-te para o inferno George Bush, porque, como já dizia Ali Primera "hermano de mi pátria usted no es".

Foi bonito, foi redentor, mas, e agora? Será diferente com Obama? É diferente dos demais carrascos? Trará paz ao mundo? Acabará com Guantánamo? Findará a tortura? Deixará de ingerir sobre a vida das gentes nos países que têm riquezas para eles roubarem? Duvido muitíssimo!

O bravo jornalista do Iraque enfrentou a ira dos deuses e está a receber aplausos de todos os cantos do mundo. Legal, isso é bom. Mas, quisera eu que os coleguinhas do mundo todo principiassem a realizar o insólito, tal qual o iraquiano, não atirando sapatos, mas narrando a vida, a vida mesma, essa que escorre pelos dedos da história real e que não encontra espaço para se expressar.

Sim, foi orgástico ver o sapato voando. Talvez fosse tudo o que aquele homem pudesse fazer. Mas nós, aqui na terrinha, podemos mais do que um sapato no ar. Nós podemos contar da vida, dos podres do poder, da dominação. Nós podemos narrar o horror do cotidiano e mais, nós podemos anunciar a boa nova. Outras formas há de se viver no mundo. Boas e bonitas. Os atiradores de sapatos são bem vindos, sim, mas é chegada a hora dos Jeremias a insistir contra todo o bom senso: "ainda hão de nascer flores neste lugar". Viva o jornalista iraquiano que arremessou os sapatos, mas vivam também os loucos que, a despeito de tudo, jogam a merda do capital no ventilador. Eles não aparecem em rede nacional, mas estão aí, insistindo e lutando. Há mais sapatos voando por aí do que pode sonhar nossa vã filosofia!

--

E VOCÊ, O QUE VOCÊ ACHOU DA SAPATADA?


7 comentários:

Anônimo disse...

Eu também queria atirar meus sapatos no Bush. O gesto foi simples, mas também corajoso e honesto. É terrível ver essa gente destruindo tantas vidas e não ter forças para contê-los. Tem muita gente empenhada em lutar contra isso, muita gente que tem vontade, mas a coragem do colega iraniano...são bem poucos...viva Muntadar Al-Zaidi

Anônimo disse...

Quem sabe se ele tivesse treinado um pouco mais ou talvez jogado os dois sapatos ao mesmo tempo...É muita ironia um iraquiano errar um alvo americano.

Da Redação disse...

A pontaria do jornalista estava ótima. Me impressionou a agilidade do carniceiro de Washington.
Agora queria ver se aquela tal Repórteres Sem Fronteiras vai se pronunciar. Estou aguardando...
Acostumada a criticar regimes de esquerda, a RSF se cala quando o assunto são os crimes do império contra jornalistas e a liberdade de expressão.

johnnymarcus disse...

A sapatada foi emblemática - e quiçá inspiradora para nós jornalistas de Mato Grosso. Não literalmente, mas que tal se nossa imprensa pé rachada tomasse finalmente coragem e também desse umas sapatadas em figuras do tipo Blairo Maggi, José Riva, Humberto Bosaipo, Jayme Campos, Sérgio Ricardo, Maksuês Leite, Wilson Santos e congêneres? Afinal de contas, pau que bate em Dito, também deveria bater em Benedito!

JOHNNY MARCUS

Sindjor-MT disse...

Nivaldo Queiróz - O terror do mundo deixa a casa e centro dos noticiários com uma cena histórica e até mesmo hilária. Putz que pena que nenhum daqueles sapatos não acertou a cara do BUSH. O mundo agradeceria o jornalista Iraquiano eternamente e eu ficaria muito feliz. Não indo muito longe tem tantos aqui no Brasil que merecem umas sapatadas e etc...e tal.
Tem presidente fazendo piadinhas "Por favor não tirem os sapatos, o calor esta demais e não vamos aquentar o chulé".
O Lulinha larga disso.
O que foi que disse mesmo quando o Corinthians contratou o Ronaldo gordo ex-fenômeno?
há! há! há!

Anônimo disse...

Essa sapatada me deixou mais feliz. É bom saber que há jornalistas assim, indignados, capazes de reagir, capazes de contemplar boa parte do mundo, que tá de saco cheio desse Bush e de outros com cara de Bush. E Bush foi cínico. Na hora da sapatada ele dizia: um beijo de despedida ao Iraque. Beijo da morte. Milhares de civis mortos.

Unknown disse...

Lindo, Maravilhoso. Sensacional,
Bravo.